terça-feira, 30 de agosto de 2011

Go Home

Apoiada aqui, no parapeito desta varanda, tragando o segundo cigarro de filtro amarelo, perco-me em devaneios.
Voltei à minha casa, casa de papai e mamãe, onde eu me sentava na grama macia do quintal e admirava o céu, fizesse chuva ou Sol, lá estava eu, tomando benção do infinito azul.
Lembrei do silêncio, da familiaridade, do cobertor quentinho que mamãe esticava sobre mim nas madrugadas frias. Lembrei das histórias do papai, dariam bons livros de ficção, que nos arrancavam boas gargalhadas ao final de cada uma.
Pareço sentir o cheiro da torta de morango da vovó, passar o dedo na cobertura e lambê-lo para dar a primeira prova dava-me um prazer inexplicável. Vovó tinha mãos de fada.
Tive uma súbita volta à realidade ao me assustar com a escandalosa buzina de um caminhão que atravessava a movimentada avenida do centro da minha nova cidade.
Me mudei para viver sozinha e sinto-me sozinha demais. Sou rodeada de apartamentos, vizinhos e carros barulhentos, cigarros e solidão.
Eu quis partir, agora quero voltar.