terça-feira, 9 de novembro de 2010

A casa


Já havia passado por aqui antes. Essa mesa no meio da sala, com esse livro, na mesma posição, antes ele não estava empoeirado. Olhei com certo receio à minha volta, nada me parece estranho, os móveis antigos, um sofá coberto por um lençol, uma cristaleira com sua taças e copos de cristal, uma mesinha pequena que cabia apenas o abajour, antes ele estava aceso. Passei meus dedos pela capa do livro, reconheci a textura e a suavidade dela. Esse lugar... Tão prazeroso reencontrá-lo. Parece que fui feliz aqui, nenhuma recordação me vem à cabeça, mas aqui fui feliz. Um ruído no andar de cima, paralizada fixei os olhos na escada, o que quer fosse, me assutou terrivelmente. Outro ruído, e mais outro, e mais outro, são passos. Não me lembro de outras pessoas aqui, só me lembro do livro, dos móveis e de ter sido feliz. Decidi que era hora de subir e ver quem está aqui. Degrau por degrau, tento não fazer barulho. Os ruídos se acalmaram, parei, olhei. Um ruído mais forte. Tremula andei alguns passos e vi uma porta entreaberta com um pouco de luz do Sol passando por ela, com receio abri a porta e olhei pelo cômodo até meus olhos pararem naquela figura, ele, estava sentado à beira da cama com um sorriso largo ao me ver surpresa. Ele retornou para casa, para nossa casa, para mim, para nossa vida. Ele havia voltado por completo, suas botas sujas de lama estavam jogadas no canto do quarto, seu paletó colocado cuidadosamente nas costas da cadeira da escrivaninha velha. Ele retornou para casa, me joguei em seus braços, percebi como realmente fui e serei novamente feliz aqui.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Diálogos

- Ficará longe por quanto tempo?
- O tempo que for necessário.
- E se eu não suportar?
- Eu sei que suportarás.
- Como tem tanta certeza?
- Tu não me amas a esse ponto.
- Como tem tanta certeza?
- É óbvio.
- Está enganado.
- Sei que estou.
- Então, por que disseste isto?
- Senão eu não suportarei.
- Eu sei que suportarás.
- Não suportarei.
- Então fique.
- Tenho de ir.
- Não tem, não tem porque ir para longe de mim.
- São só negócios.
- Você sempre me diz isso.
- E sempre volto.
- Não tenho como saber se voltarás ou não.
- Confia em mim?
- Confio, oras.
- Prometo-lhe que voltarei
- Tudo bem.
- Ora, não faça essa cara, senão não consiguirei ir.
- Então não vá.
- Quantas vezes lhe direi que tenho de ir?
- Até você não dizer mais e ficar, ficar comigo para sempre.
- Estarei sempre com você, meu coração está com você.
- Quero você por inteiro.
- Está na minha hora.
- Por favor.
- Não posso.
- Então... Boa viagem querido.
- Obrigado, te amo.
- Eu te amo.

domingo, 7 de novembro de 2010

Menino na janela


Havia um menino na janela, um menino tão puro, que eu te juro, nunca havia visto algo como isto. Um menino tão genuino, perdido na solidão do seu mundo. Longe do imundo, do incoveniente dessa gente.
Algo lhe pesava, mas não o incomodava, ele o segurava com cuidado, algo que não devia ser derrubado. Admirava com atenção, toda aquela confusão, com seu peso em mãos, vi-as tremendo, mas em seu rosto, expressão de contentamento.
Havia ali, um menino que chamou-me atenção logo quando vi, com um peso em suas mãos, não parava de observar cada passo e cada compasso, dos humanos desse lugar.

sábado, 6 de novembro de 2010

Liberdade

Deixei a água lavar minh'alma, deixar tudo que me pesava ir pelo ralo, a angústia, o sofrimento que sempre me acompanharam, deixei que fossem, resolvi me libertar, abrir meus olhos para um mundo mais bonito, mais leve que me aguardava do lado de fora.
Desliguei o chuveiro e deixei a água escorrer pelo meu corpo levando junto de si tudo que eu queria que fosse. Lavei-me dos pés à cabeça de pura liberdade. Me livrei de tudo, do sofrimento, de mim, de você, de nós.
Sorri, me senti feliz denovo, depois de meses, pude sorrir novamente. Respirei fundo e saí, para a vida, para novos rostos, novos olhares, novas bocas, para um mundo que eu havia esquecido, que havia deixado em uma gaveta esperando para ser descoberto novamente. Pude ouvir um som ao longe, que prendeu minha atenção e me fez dançar, dançar ali no meio da formalidade do desconhecido, olhares estranhos me olhavam estranhamente, mas eu sou livre agora.
Sinto-me como um pássaro libertado da gaiola que o limitava a olhar o céu de longe sem poder saboreá-lo, sem sentir o vento, sem poder voar sem rumo, para onde o vento levasse, agora eu posso.
Vou voar, para onde for, sem destino, sem hora para voltar.