segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Amarras

Tornou-se impossível desatar os nós, livrar-me das amarras. Tentei mas não consegui. Desvencilhar-me de você é intensamente impossível. Desvencilhar-me de você é desvencilhar-me de mim.
Caminhar sem você, é caminhar no escuro, sem chão sem direção.
Meu coração está amarrado, fundido ao seu. Respirar sem você é não respirar.
Lindo e frágil como um castelo de areia, um dia resistiu às ondas.

Deixei de caminhar, deixei de respirar. Você se foi sem olhar para trás, sem virar-se sequer para fechar a porta. Senti minha essência esvair-se. Seu perfume ainda estava aqui, seus discos, sapatos, camisas, cuecas, tudo, menos você. Sua xícara ainda estava na pia, com o resto do café de hoje cedo nela, secando no fundo, os farelos do seu pão ainda estavam no prato. As marcas da briga ainda estavam grudadas nas paredes, chão, teto, cama, sofá, mesa, as palavras ainda estavam soltas no ar.

A porta permanecia aberta, não haviam forças em mim capazes de me fazer levantar, viver. A porta permanecia aberta, esperançosa, ansiosa pelo seu retorno. A chuva entrava pela janela assim como minhas lágrimas escorriam pelos meus olhos, sem vergonha, sem cerimônia.

A última imagem da minha vida é essa, eu assistindo meu mundo inteiro ir embora pela porta do nosso apartamento de um quarto, me deixando jogada no chão, derrotada, acabada, sozinha, desamparada. Se houvesse alguém para me dar um conselho, diria para seguir a minha vida, eu apenas responderia que não há mais vida. Ela se foi pela porta da frente.

Sentada de frente à porta fiquei por horas, dias, nem sei. Sentada de frente à porta fiquei esperando seu retorno, esperei o tempo que o destino me proporcionou. O tempo que meu coração tinha pra bater, ele estava condenado. Você o condenou, plantou uma bomba relógio nele assim que encostou seus compridos e macios dedos na maçaneta da porta.

Minha vida se foi, minha essência, meu sorriso, minhas sensações e sentimentos. Virei um corpo gélido, agora deitado, de frente à porta.