quarta-feira, 30 de março de 2011

Memória

Me lembro que na sala de estar havia uma mesa e uma cadeira junto à janela.
Na mesa, havia um cinzeiro com um cigarro na metade e uma xícara com café recém coado.
Na cadeira, se me lembro bem, estava eu, branca como nunca, com os olhos fechados e com os lábios levemente arroxeados.
Minhas recordações acabam aqui.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Madalena,

Esta é a úlima carta que lhe escrevo e não trago boas notícias.
Neste tempo que fiquei sem lhe escrever, aconteceram coisas que mudarão as nossas vidas. Então, peço que não chore, será doloroso demais para mim, quero que siga seu caminho, um dia nos encontraremos novamente.
Na última vez que fui ao campo de batalha nessa maldita guerra, fui baleado na cabeça e no coração e ali mesmo deitei e fiquei, não muito tempo depois, uma mulher acabada com olhos cansados e a coluna curvada ajoelhou ao meu lado e disse que me levaria para um lugar calmo e bonito, então, me pegou nos braços e me levou dali, no colo, como se eu fosse um bebê.
Não me lembro de como cheguei aqui nem se a viagem demorou, mas quando acordei eu estava deitado, a moça não estava mais aqui, tinha apenas um homem barbudo sorrindo para mim dizendo um bocado de coisas que não consegui entender, só entendi que onde estou se chama Éden.
Foi então que percebi que eu estou morto.
Meu amor, não tema a morte, aqui é bonito e tranquilo, não sofrerás e tudo sairá perfeitamente bem.
Te aguardo aqui meu bem, mas não tenha pressa. Vá ser feliz.
Eu te amo.

Mauricio

segunda-feira, 21 de março de 2011

Suis le Roi

Pelo espelho vi o nada que me tornei.
Então minhas malas arrumei.
Uma meta tracei.
Um rumo tomei.
Até a esquina, foi onde cheguei.
Ali mesmo me sentei
Não sei o que pensei.
Só que por horas ali fiquei.
Dormi mas não sonhei.
Foi então que notei,
que no mundo que criei,
Eu sou o Rei.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Não esqueças de mim

Outono, este é meu nome. Outono... Outono.
Sou o esquecido das estações. Eu, que levo com o vento as folhas que estão cansadas de um verão formoso e cheio de energia, que as pinto de amarelo para quebrar a monotonia do verde.
Eu, que preparo as almas pro formoso inverno, que destruo o sorriso dos foliões mas devolvo-o aos sensatos.
Eu, que descanso os galhos das árvores, que torno os dias e as noites mais confortáveis.
Eu, que não tenho flores, nem pássaros cantando, nem jardins coloridos, que tenho apenas tons cinza e amarelo.
Eu, que não sou esplendoroso nem tão gracioso, tenho apenas meu charme. Eu, que sou tímido e discreto.
Sou o Outono, a estação dos esquecidos, perdidos, atordoados.
Sou a estação do silêncio, da solidão.
Sou o silêncio, a solidão.
Não esqueças de mim.